O espetáculo Relações em Conflito, do Núcleo de Formação de Facilitadores (FOFA), fará duas apresentações no próximo final de semana, na Casa das Máquinas, Lagoa da Conceição. No sábado, dia 6, o grupo se apresenta às 20h, com ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). No domingo, 7, o espetáculo inicia às 18h e tem entrada gratuita.
Criada a partir da interação entre o FOFA e a comunidade da Tapera, a peça é baseada em histórias e pesquisas conjuntas no bairro, a partir de visitas e registros. “Queríamos uma aproximação informal com o cotidiano local, de forma a gerar um entendimento mais amplo do que é a Tapera”, afirma Marcia Pompeo, diretora do espetáculo e professora do departamento de Artes Cênicas do Centro de Artes da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina)..
Em cena, o espetáculo se desenvolve a partir de dois focos distintos: o infantil e o adulto. No primeiro, conta a história de Juliana, uma menina diferente das demais, que é provocada pelos colegas na escola. O foco adulto retrata a vida de Francisco, pai de Juliana, cujos percalços são inspirados na peça Woyzeck de Büchner.
Sobre o FOFA
O Núcleo de Formação de Facilitadores – FOFA – é um projeto de extensão do Centro de Artes da UDESC, criado em 2008 com o objetivo de desenvolver trabalhos voltados para à abordagem Dialógica do Teatro para o Desenvolvimento, principalmente no sentido de valorizar as vozes das comunidades na construção de processos criativos. Atualmente, conta com cerca de 20 integrantes, incluindo pessoas da universidade, líderes comunitários e coordenadores de trabalhos artísticos em comunidades, escolas e sindicatos. O projeto funciona como fórum de teatro na comunidade, vinculando pesquisa e extensão, além de representar um espaço de troca, na medida em que favorece a experimentação e o debate.
SERVIÇO
Espetáculo Relações em conflito
Local: Casa das Máquinas – Lagoa da Conceição
Sábado, 6 de novembro, às 20h
Ingresso: R$ 10 e R$ 5
Domingo, 7 de novembro, às 18h
Entrada gratuita
Release: Relações em Conflito: um diálogo teatral com a comunidade da Tapera
A peça Relações em conflito foi criada a partir de uma interação de um grupo chamado FOFA - um grupo de Formação de Facilitadores – e a comunidade da Tapera. O processo começou com uma visita à comunidade, segundo Marcia Pompeo foi muito importante a forma de entrar na comunidade: “queríamos uma aproximação informal com o cotidiano local, de forma a gerar um entendimento mais amplo do que é a Tapera”. Quem nos recebeu foi Filipe, o diretor do grupo de teatro Chacoalhão, formado por moradores da Tapera. Na preparação da visita, os membros do FOFA deixaram claro: “nosso interesse não era o do turista que só quer usufruir dos lugares mais bonitos. Queríamos conhecer mais profundamente a comunidade”.
Fomos guiados, em pequenos grupos, pelos caminhos da Tapera. A proposta era registrar o caminho com máquinas fotográficas que passavam pelas mãos dos integrantes do FOFA e da Tapera: “queríamos colher cheiros, sons e objetos significativos que encontrávamos no caminho. Conversamos com alguns moradores que encontramos, descobrindo elementos da história da comunidade’, disse Cristina Sanchez, bolsista e estagiária do projeto.
O passo seguinte foi convidar o grupo da Tapera para uma visita ao Centro de Artes da UDESC. Investigamos a Tapera a partir de desenhos e seus moradores que nos contaram “histórias de mentira e histórias de verdade” que “aconteceram” nos caminhos da comunidade. Uma das histórias contadas chamou nossa atenção: era a história de dois meninos que saíram da aula de judô e viram um menino sozinho brincando. Era um menino que eles chamavam de “índio”, com quem “todo mundo brigava na escola”. “Era um fragmento da realidade da Tapera, relativo a um problema que vem ganhando destaque, no Brasil, o bullying. Mais do que isso, a história integrava o problema da violência no contexto das crianças e dos adultos, permitindo um maior aprofundamento do problema” disse Aline Quites, outra bolsista estagiária do projeto.
Para problematizar nosso entendimento do processo, convidamos Sergio de Carvalho, diretor do grupo de teatro Companhia do Latão, para nos ajudar a explorar as contradições nos dados coletados. Sergio, a partir de algumas perguntas chave, descobriu que havia um paralelo muito interessante entre a realidade da Tapera e a peça Woyzeck, de George Büchner. Em primeiro lugar, o texto Woyzeck, da mesma forma que a comunidade da Tapera, também se passa numa base militar. Em segundo lugar, o personagem principal, Woyzeck, enlouquece durante a peça porque é cobaia de uma pesquisa médica. A loucura de Woyzeck se encaixa de forma fantástica com o relato sobre os personagens da história contada pelas crianças, que escolhemos como foco do processo criativo.
“Optamos por desenvolver uma montagem que fosse ao mesmo tempo um teatro feito pelos integrantes do grupo da Tapera, que desenvolveram as cenas relativas ao contexto da briga das crianças; bem como um teatro feito com a comunidade, isto é, os membros do FOFA também desenvolveriam parte do trabalho teatral, apropriando-se do contexto dos adultos, através de uma combinação entre os dados coletados na comunidade e elementos do texto Woyzeck” disse Marcia Pompeo, que complementou: “Existem também algumas cenas conjuntas dos contextos das crianças e dos adultos, fazendo ligação entre os dois universos. Entretanto, não mantivemos a fábula do texto, o que guiou nossa montagem foi a história contada pelo grupo de teatro da Tapera”.
O que é o FOFA?
O Núcleo de Formação de Facilitadores – FOFA – é um projeto de extensão do Centro de Artes da UDESC, que existe desde o final de 2008. Conta atualmente com cerca de 20 (vinte) integrantes, incluindo um grupo de pessoas da universidade - alunos de graduação, entre eles bolsista de pesquisa e extensão, estagiários e voluntários; alunos de mestrado, que desenvolvem pesquisa nesta área, e a professora coordenadora do projeto - e pessoas de fora da universidade - lideres comunitários e coordenadores de trabalhos artísticos em comunidades, escolas e sindicatos. A opção pelo teatro em comunidades surge, para alguns, como evolução de uma prática teatral, que busca uma interação com um contexto específico, para outros, surge de uma atuação comunitária, que busca no teatro um caminho para ampliar seu vínculo com a comunidade. Tanto num caso como no outro há a necessidade de debater o fazer teatral em comunidades.
A diversidade que caracteriza a história de vida de cada um de seus integrantes é o que tem de mais rico no FOFA. Esse fórum de teatro na comunidade vincula pesquisa e extensão e representa um espaço de troca, na medida em que favorece a experimentação e o debate. As reuniões do grupo acontecem semanalmente. Nelas desenvolvemos atividades diversas: investigamos metodologias relacionadas ao teatro em comunidades e dialogamos sobre os desafios dessa modalidade teatral.
O FOFA é um grupo ARROW
Através de apoio do Ministério da Cultura, pudemos participar do Congresso Mundial do ARROW – arte como um recurso para a paz no mundo – um projeto coordenado por David Oddie, do University College Marjon, em Plymouth, Inglaterra. Em julho de 2010 o Arrow organizou um Congresso Playing with the Conflict (Brincando com o Conflito). O congresso reuniu 98 jovens de 9 diferentes países. Cada país levou uma apresentação artística e juntos criamos um desfile de carnaval na cidade de Plymouth. O FOFA é hoje um grupo da ARROW.
Foi uma experiência inesquecível para o grupo. Conseguimos enfrentar o desafio de fazer uma viagem internacional, de enfrentar a barreira da língua, e de adaptar o espetáculo de 16 pessoas para apenas 6 pessoas do grupo que se encaixavam no limite de faixa etária estabelecido pelo congresso. Isso nos fez crescer como grupo. Fizemos amigos em outros países, nos identificamos muito com os palestinos e percebemos com mais clareza o sofrimento de seu povo. Percebemos semelhanças e diferenças com os novos amigos da Malásia, Índia, África do Sul. Depois do congresso podemos dizer que não somos mais os mesmos. Com o auxílio do Facebook, do email permanecemos em contato com os novos amigos e esperamos poder participar de um novo congresso no futuro.
Fundamentos do Trabalho
A linha condutora dos trabalhos no FOFA segue a abordagem Dialógica do Teatro para o Desenvolvimento, principalmente no sentido de valorizar as vozes das comunidades na construção de processos criativos. Fundamenta-se primordialmente em Paulo Freire. Para ele, no lugar de tratar as pessoas das comunidades como objetos, deve-se tratá-las como sujeito. Dessa forma, os projetos do FOFA partem sempre do ponto de vista de seus integrantes e visam ao fortalecimento das comunidades. Em nossos projetos, a perspectiva política é diferente das mensagens transformadoras, o foco aqui é descobrir, articular e dar forma para conteúdos, problemas ou histórias significativas para as pessoas da própria comunidade e os contextos sócio-políticos em que estão inseridos. O teatro aqui é um passo importante na solução de problemas, no enfrentamento de dificuldades, e na construção de um mundo melhor.
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